20090118
FRASES DE MARIO QUINTANA
Interesse é um ponto de exclamação ou de interrogação no final do sentimento
Intuição é quando seu coração dá um pulinho no futuro e volta rápido
Já trazes ao nascer a tua filosofia. As razões? Essas vêm posteriormente, Tal como escolhes, na chapelaria, A fôrma que mais te assente
Lembrança é quando, mesmo sem autorização, seu pensamento reapresenta
Livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas
Lucidez é um acesso de loucura ao contrário
Mas o que quer dizer este poema? - perguntou-me alarmada a boa senhora E o que quer dizer uma nuvem? - respondi triunfante. Uma nuvem - disse ela - umas vezes quer dizer chuva, outras vezes bom tempo
Mas que haverá com a lua que sempre que a gente olha é com um novo espanto?
Mas que susto não irão levar essas velhas carolas se Deus existe mesmo
Melancolia: Maneira romântica de ficar triste
Minha vida é uma colcha de retalhos. Todos da mesma cor
FRASES DE MARIO QUINTANA
LEITURA
Se é proibido escrever nos monumentos, também deveria haver uma lei que proibisse escrever sobre Shakespeare e Camões
LEITURAS
- Você ainda não leu O Significado do Significado? Não? Assim você nunca fica em dia. - Mas eu estou só esperando que apareça O Significado do Significado do Significado
LINHA CURVA
O caminho mais agradável entre dois pontos
LINHA RETA
Linha sem imaginação
FRASES DE MARIO QUINTANA
FRASES DE MARIO QUINTANA
INSCRIÇÃO PARA UMA LAREIRA
A vida é um incêndio: nela dançamos, salamandras mágicas Que importa restarem cinzas se a chama foi bela e alta? Em meio aos toros que desabam, cantemos a canção das chamas! Cantemos a canção da vida, na própria luz consumida
LEGÍTIMA APROPRIAÇÃO
Copio e assino essa frase encontrada no velho Schopenhauer: A soma de barulho que uma pessoa pode suportar está na razão inversa de sua capacidade mental
FRASES DE MARIO QUINTANA
FELICIDADE REALISTA
A princípio bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos. Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser magérrimos, sarados, irresistíveis. Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema: queremos a piscina olímpica e uma temporada num spa cinco estrelas. E quanto ao amor? Ah, o amor... não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo. Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, queremos jantar a luz de velas de segunda a domingo, queremos sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito. É o que dá ver tanta televisão. Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista. Ter um parceiro constante pode ou não, ser sinônimo de felicidade. Você pode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com um parceiro, feliz sem nenhum. Não existe amor minúsculo, principalmente quando se trata de amor-próprio. Dinheiro é uma benção. Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo, usufruí-lo. Não perder tempo juntando, juntando, juntando. Apenas o suficiente para se sentir seguro, mas não aprisionado. E se a gente tem pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda, buscando coisas que saiam de graça, como um pouco de humor, um pouco de fé e um pouco de criatividade. Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável. Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato, amar sem almejar o eterno. Olhe para o relógio: hora de acordar É importante pensar-se ao extremo, buscar lá d entro o que nos mobiliza, instiga e conduz, mas sem exigir-se desumanamente. A vida não é um jogo onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio. Não sejamos vítimas ingênuas desta tal competitividade. Se a meta está alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as regras, demita-se. Invente seu próprio jogo. Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade. Ela transmite paz e não sentimentos fortes, que nos atormenta e provoca inquietude no nosso coração. Isso pode ser alegria, paixão, entusiasmo, mas não felicidade
FRASES DE MARIO QUINTANA
CONFISSÃO
Que esta minha paz e este meu amado silêncio Não iludam a ninguém Não é a paz de uma cidade bombardeada e deserta Nem tampouco a paz compulsória dos cemitérios Acho-me relativamente feliz Porque nada de exterior me acontece... Mas, Em mim, na minha alma, Pressinto que vou ter um terremoto
FRASES DE MARIO QUINTANA
A DIFERENÇA
A diferença entre um poeta e um louco é que o poeta sabe que é louco... Porque a poesia é uma loucura lúcida
AMAR
Fechei os olhos para não te ver e a minha boca para não dizer... E dos meus olhos fechados desceram lágrimas que não enxuguei, e da minha boca fechada nasceram sussurros e palavras mudas que te dediquei... O amor é quando a gente mora um no outro
AMOR
Quando duas pessoas fazem amor Não estão apenas fazendo amor Estão dando corda ao relógio do mundo
FRASES DE MARIO QUINTANA
FRASES DE MARIO QUINTANA
FRASES DE MARIO QUINTANA
FRASES DE MARIO QUINTANA
FRASES DE MARIO QUINTANA
FRASES DE MARIO QUINTANA
Amar é mudar a alma de casa
Amizade é quando você não faz questão de você e se empresta pros outros
FRASES DE MARIO QUINTANA
FRASES DE MARIO QUINTANA
FRASES DE MARIO QUINTANA
FRASES DE MARIO QUINTANA
FRASES DE MARIO QUINTANA
A recordação é uma cadeira de balanço, embalando sozinha
A resposta certa, não importa nada: o essencial é que as perguntas estejam certas
A saudade da amada criatura é bem melhor do que a presença dela
FRASES DE MARIO QUINTANA
FRASES DE MARIO QUINTANA
FRASES DE MARIO QUINTANA
FRASES DE MARIO QUINTANA
FRASES DE MARIO QUINTANA
FRASES DE MARIO QUINTANA
FRASES DE MARIO QUINTANA
FRASES DE MARIO QUINTANA
SEMPRE QUE CHOVE
Sempre que chove Tudo faz tanto tempo... E qualquer poema que acaso eu escreva Vem sempre datado de 1779
SIMULTANEIDADE
- Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo! Eu creio em Deus! Deus é um absurdo! Eu vou me matar! Eu quero viver! - Você é louco? - Não, sou poeta
SONHO
Um poema que ao lê-lo, nem sentirias que ele já estivesse escrito, mas que fosse brotando, no mesmo instante, de teu próprio coração
TROVA
Coração que bate-bate... Antes deixes de bater! Só num relógio é que as horas Vão passando sem sofrer
URBANÍSTICA
Como seriam belas as estátuas equestres se constassem apenas dos cavalos
VENTO
Pastor das nuvens
VERSO AVULSO
... O luar é a luz do sol que está dormindo
FRASES DE MARIO QUINTANA
DEFICIENCIAS
"Deficiente" é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino. "Louco" é quem não procura ser feliz com o que possui. "Cego" é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria, e só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores. "Surdo" é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão. Pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês. "Mudo" é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia. "Paralítico" é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda. "Diabético" é quem não consegue ser doce. "Anão" é quem não sabe deixar o amor crescer. E, finalmente, a pior das deficiências é ser miserável, pois: "Miseráveis" são todos que não conseguem falar com Deus.
FRASES DE MARIO QUINTANA
FRASES DE MARIO QUINTANA
OS DEGRAUS
Não desças os degraus do sonho Para não despertar os monstros. Não subas aos sótãos - onde Os deuses, por trás das suas máscaras, Ocultam o próprio enigma. Não desças, não subas, fica. O mistério está é na tua vida! E é um sonho louco este nosso mundo
FRASES DE MARIO QUINTANA
NUNCA NINGUÉM SABE
Nunca ninguém sabe se estou louco para rir ou para chorar Pois o meu verso tem essa quase imperceptível tremor... A vida é louca, o mundo é triste: vale a pena matar-se por isso? Nem por ninguém! Só se deve morrer de puro amor
FRASES DE MARIO QUINTANA
MAU HUMOR
Os que metem uma bala na cabeça retiram-se deste mundo batendo com a porta
FRASES DE MARIO QUINTANA
O MATA-BORRÃO
O mata-borrão absorve tudo e no fim da vida acaba confundindo as coisas por que passou... O mata borrão parece gente
FRASES DE MARIO QUINTANA I
O LUAR
O luar, é a luz do Sol que está sonhando O tempo não pára! A saudade é que faz as coisas pararem no tempo... ...os verdadeiros versos não são para embalar, mas para abalar...A grande tristeza dos rios é não poderem levar a tua imagem
Mario Quintana - A RUA DOS CATAVENTOS II
XII
Para Erico Verissimo
O dia abriu seu pára-sol bordado
De nuvens e de verde ramaria.
E estava até um fumo, que subia,
Mi-nu-ci-o-sa-men-te desenhado.
Depois surgiu, no céu azul arqueado,
A Lua - a Lua! - em pleno meio-dia.
Na rua, um menininho que seguia
Parou, ficou a olhá-la admirado...
Pus meus sapatos na janela alta,
Sobre o rebordo... Céu é que lhes falta
Pra suportarem a existência rude!
E eles sonham, imóveis, deslumbrados,
Que são dois velhos barcos, encalhados
Sobre a margem tranqüila de um açude...
A Rua dos Cataventos
Mario Quintana - A RUA DOS CATAVENTOS I
I
Escrevo diante da janela aberta.
Minha caneta é cor das venezianas:
Verde!... E que leves, lindas filigranas
Desenha o sol na página deserta!
Não sei que paisagista doidivanas
Mistura os tons... acerta... desacerta...
Sempre em busca de nova descoberta,
Vai colorindo as horas quotidianas...
Jogos da luz dançando na folhagem!
Do que eu ia escrever até me esqueço...
Pra que pensar? Também sou da paisagem...
Vago, solúvel no ar, fico sonhando...
E me transmuto... iriso-me... estremeço...
Nos leves dedos que me vão pintando!
A Rua dos Cataventos
Mario Quintana - INSCRICAO PARA UM PORTAO DE CEMITERIO
INSCRIÇÃO PARA UM PORTÃO DE CEMITÉRIO
Na mesma pedra se encontram,
Conforme o povo traduz,
Quando se nasce - uma estrela,
Quando se morre - uma cruz.
Mas quantos que aqui repousam
Hão de emendar-nos assim:
"Ponham-me a cruz no princípio...
E a luz da estrela no fim!"
A Cor do Invisível
Mario Quintana - A CANCAO DA VIDA
A vida é louca
a vida é uma sarabanda
é um corrupio...
A vida múltipla dá-se as mãos como um bando
de raparigas em flor
e está cantando
em torno a ti:
Como eu sou bela
amor!
Entra em mim, como em uma tela
de Renoir
enquanto é primavera,
enquanto o mundo
não poluir
o azul do ar!
Não vás ficar
não vás ficar
aí...
como um salso chorando
na beira do rio...
(Como a vida é bela! como a vida é louca!)
Esconderijos do Tempo
Mario Quintana - OS POEMAS
Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...
Esconderijos do Tempo
Mario Quintana - OS ARROIOS
Os arroios são rios guris...
Vão pulando e cantando dentre as pedras.
Fazem borbulhas d'água no caminho: bonito!
Dão vau aos burricos,
às belas morenas,
curiosos das pernas das belas morenas.
E às vezes vão tão devagar
que conhecem o cheiro e a cor das flores
que se debruçam sobre eles nos matos que atravessam
e onde parece quererem sestear.
Às vezes uma asa branca roça-os, súbita emoção
como a nossa se recebêssemos o miraculoso encontrão
de um Anjo...
Mas nem nós nem os rios sabemos nada disso.
Os rios tresandam óleo e alcatrão
e refletem, em vez de estrelas,
os letreiros das firmas que transportam utilidades.
Que pena me dão os arroios,
os inocentes arroios...
Baú de Espantos
Mario Quintana - OS DEGRAUS
Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos - onde
Os deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo...
Baú de Espantos
Mario Quintana - O MORTO
Eu estava dormindo e me acordaram
E me encontrei, assim, num mundo estranho e louco...
E quando eu começava a compreendê-lo
Um pouco,
Já eram horas de dormir de novo!
Apontamentos de História Sobrenatural
Mario Quintana - O MAPA
Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo...
(É nem que fosse o meu corpo!)
Sinto uma dor infinita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...
Há tanta esquina esquisita,
Tanta nuança de paredes,
Há tanta moça bonita
Nas ruas que não andei
(E há uma rua encantada
Que nem em sonhos sonhei...)
Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso
Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)
E talvez de meu repouso...
Apontamentos de História Sobrenatural
Mario Quintana - AUTO RETRATO
No retrato que me faço
- traço a traço -
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore...
às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança...
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão...
e, desta lida, em que busco
- pouco a pouco -
minha eterna semelhança,
no final, que restará?
Um desenho de criança...
Corrigido por um louco!
Apontamentos de História Sobrenatural
Mario Quintana - E A ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS
O poeta tentou por três vezes uma vaga à Academia Brasileira de Letras, mas em nenhuma das ocasiões foi eleito; as razões eleitorais da instituição não lhe permitiram alcançar os vinte votos necessários para ter direito a uma cadeira. Ao ser convidado a candidatar-se uma quarta vez, e mesmo com a promessa de unanimidade em torno de seu nome, o poeta recusou.
Só atrapalha a criatividade. O camarada lá vive sob pressões para dar voto, discurso para celebridades. É pena que a casa fundada por Machado de Assis esteja hoje tão politizada. Só dá ministro. (Mário Quintana)
Se Mário Quintana estivesse na ABL, não mudaria sua vida ou sua obra. Mas não estando lá, é um prejuízo para a própria Academia. (Luis Fernando Veríssimo)
Não ter sido um dos imortais da Academia Brasileira de Letras é algo que até mesmo revolta a maioria dos fãs do grande escritor, a meu ver, títulos são apenas títulos, e acredito que o maior de todos os reconhecimentos ele recebeu: o carinho e o amor do povo brasileiro por sua poesia e pelo grande poeta e ser humano que ele foi... (Cícero Sandroni)
Mario Quintana - LISTA DE SUAS OBRAS
* A Rua dos Cataventos - Porto Alegre, Editora do Globo, 1940
* Canções - Porto Alegre, Editora do Globo, 1946
* Sapato florido - Porto Alegre, Editora do Globo, 1948
* O aprendiz de feiticeiro - Porto Alegre, Editora Fronteira, 1950
* Espelho mágico - Porto Alegre, Editora do Globo, 1951
* Inéditos e esparsos - Alegrete, Cadernos do Extremo Sul, 1953
* Poesias - Porto Alegre, Editora do Globo, 1962
* Caderno H - Porto Alegre, Editora do Globo, 1973
* Apontamentos de história sobrenatural - Porto Alegre, Editora do Globo / Instituto Estadual do Livro, 1976
* Quintanares- Porto Alegre, Editora do Globo, 1976
* A vaca e o hipogrifo - Porto Alegre, Garatuja, 1977
* Esconderijos do tempo - Porto Alegre, L&PM, 1980
* Baú de espantos - Porto Alegre - Editora do Globo, 1986
* Preparativos de viagem - Rio de Janeiro - Editora Globo, 1987
* Da preguiça como método de trabalho - Rio de Janeiro, Editora Globo, 1987
* Porta giratória - São Paulo, Editora Globo, 1988
* A cor do invisível - São Paulo, Editora Globo, 1989
* Velório sem defunto - Porto Alegre, Mercado Aberto, 1990
* Água - Porto Alegre, Artes e Ofícios, 2001
Livros infantis
* O batalhão das letras - Porto Alegre, Editora do Globo, 1948
* Pé de pilão - Petrópolis, Editora Vozes, 1968
* Lili inventa o mundo - Porto Alegre, Mercado Aberto, 1983
* Nariz de vidro - São Paulo, Editora Moderna, 1984
* O sapo amarelo - Porto Alegre, Mercado Aberto, 1984
* Sapato furado - São Paulo, FTD Editora, 1994
Antologias
* Antologia poética - Rio de Janeiro, Ed. do Autor, 1966
* Prosa & verso - Porto Alegre, Editora do Globo, 1978
* Chew me up Slowly (Caderno H) - Porto Alegre, Editora do Globo / Riocell, 1978
* Na volta da esquina - Porto Alegre, L&PM, 1979
* Objetos perdidos y otros poemas - Buenos Aires, Calicanto, 1979
* Nova antologia poética - Rio de Janeiro, Codecri, 1981
* Literatura comentada - Editora Abril, Seleção e Organização Regina Zilberman, 1982
* Os melhores poemas de Mário Quintana (seleção e introdução de Fausto Cunha)- São Paulo, Editora Global, 1983
* Primavera cruza o rio - Porto Alegre, Editora do Globo, 1985
* 80 anos de poesia - São Paulo, Editora Globo, 1986
* Trinta poemas - Porto Alegre, Coordenação do Livro e Literatura da SMC, 1990
* Ora bolas - Porto Alegre, Artes e Ofícios, 1994
* Antologia poética - Porto Alegre, L&PM, 1997
* Mario Quintana, poesia completa - Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 2005
Traduções
* Dentre os diversos livros que traduziu para a Livraria do Globo (Porto Alegre) estão alguns volumes do Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust (talvez seu trabalho de tradução mais reconhecido até hoje), Honoré de Balzac, Voltaire, Virginia Woolf, Graham Greene, Giovanni Papini e Charles Morgan. Além disso, estima-se que Quintana tenha traduzido um sem-número de histórias românticas e contos policiais, sem receber créditos por isso - uma prática comum à época em que atuou na Globo, de 1934 a 1955.
Mario Quintana - Homenagens ao Poeta
Meu Quintana, os teus cantares
Não são, Quintana, cantares:
São, Quintana, quintanares.
Quinta-essência de cantares...
Insólitos, singulares...
Cantares? Não! Quintanares!
O pajador Jayme Caetano Braun, dedicou ao poeta a Payada a Mario Quintana, segue abaixo um trecho da poesia:
Entre os bem-aventurados
Dos quais fala o evangelho,
Eu vejo no mundo velho
Os poetas predestinados,
Eles que foram tocados
Pela graça soberana,
Mas a verdade pampeana
Desta minh’alma irrequieta,
É que poeta nasce poeta
E poeta é o Mario Quintana!
Mario Quintana - ENTREVISTA DE 1987
A entrevista foi publicada pelo Jornal O Norte, no dia 25 de janeiro de 1987
P - Existe alguma pergunta que os jornalistas sempre fazem e que você considera chata?
R - Não. O que existe é uma pedida chata. Há pessoas que dizem, por exemplo: "Seu Mário, faz uma dedicatória bem poética pra mim... Olha, o que eles entendem por poética me deixa horrorizado.
P - Quando foi que a poesia entrou na sua vida?
R - Eu comecei a fazer versos desde que me entendi por gente. Eu acho que ser poeta não é uma maneira de escrever, é uma maneira de ser. Assim, como nascem pessoas de olhos azuis ou pretos, nascem também os poetas. Mas eu só publiquei mesmo o meu primeiro livro muito mais tarde. Os poetas novos tem ânsia de publicar logo, eles deveriam esperar ficar mais amadurecidos pela vida, não é? E assim, iriam amadurecendo também o seu instrumento, que são as palavras. O poeta quando mais velho tem tendência de ficar melhor, com o estilo mais depurado. Viveu mais, não é?
P - Você acha que Mário Quintana já está pronto, é um bom poeta?
R - Olha, eu sou m eterno aprendiz. Porque o poeta que descobre uma fórmula, ganha renome, não quer outra vida, e fica conversando com os amigos sentado em cima do muro sem se espetar, esse está perdido, porque eu acho que a poesia não é mais que a procura da poesia, como acho que também Deus se resume na procura de Deus. Eu publiquei meu primeiro livro aos 34 anos. Foi "A Rua dos Cataventos".
P - O que você acha da velhice?
R - eu acho que é uma pena. Só que eu queria ter nascido 40 anos antes, e não oitenta anos antes (risos). Tudo isso eu já vivi, sabe? Quando o diabo me chamar eu já estou pronto.
P - Você já viveu oitenta anos. O que é que mudou em Porto Alegre desse período pra cá?
R - Olha, naturalmente o que mudou foi a arquitetura, não é? Eu vejo sempre uma cidade dentro da outra e lembro aquela cidade antiga. Mas pra me lembrar dela eu tenho que fechar os olhos 8risos). Porto Alegre, antigamente, era muito mais calma. Não havia tantos assaltos, tanta violência... eu nasci no tempo das vacas gordas. Antes, o leiteiro deixava o leite na porta de casa e ninguém roubava. Hoje roubam até as galinhas dos despachos. Os tempos mudaram, os costumes, mas a vida continua a mesma. Eu não sou como aqueles velhos que dizem: "Ah, os bons velhos tempos..." eu tenho vontade de dizer para eles: "Olha seu moço... seu moço, não, seu velho. Os tempos são sempre bons, o senhor é que não presta mais... (risos).
P - Você continua a escrever poesia com freqüência? Publicará algum livro este ano?
R - Olha, eu não sei fazer outra coisa na vida. Este ano vou publicar dois livros: Um diário poético, com pensamentos sobre cada dia. No dia universal da mulher, por exemplo, eu escrevi o seguinte: " De cada dois gambás - eu não sei se na Paraíba se usa a palavra gambá para se definir um bêbado - um é porque nãop tem mulher e o outro é porque tem. (risos).
P - Já se tentou três vezes colocar o seu nome na Academia Brasileira de Letras e não se conseguiu. Qual é, agora, a sua relação com a Academia?
R - As minhas relações com a Academia foram sempre boas, eu sempre me dei com gente de lá. Não estou dizendo que "as uvas estão verdes", mas, na verdade eu nunca quis pertencer à Academia. O pessoal de mentalidade futebolística não se satisfazia com apenas um nome gaúcho no time e achavam que devia ter outro lá. Resolveram me candidatar. Quando me candidataram da primeira vez, eu recebi o recado de um senador, que estava tudo preparado para entrar o Portela, os votos já estavam prontos e que eu deveria desistir... e eu disse para ele, por telefone, que não haveria de desistir porque o pessoal iria pensar que era covardia minha. E seria muita desconsideração de minha parte. Aliás, eu não gosto de Academia e jamais quis pertencer a ela porque a gente perde um tempo enorme recebendo visitantes estrangeiros de valor muito suspeito. Se pensa que ser estrangeiro é grande coisa, que se francês ou inglês é uma raridade e não é bem assim. Depois, na Academia, se começa a discutir quem vai ser o sucessor de quem, se recebe impressões de toda a parte para se votar e eu acho que isso atrapalha a vida do camarada, não é? Eu acho que ultimamente a Academia virou um depósito de ministros e com o perdão de alguns amigos que eu tenho lá, um asilo de velhos. Mas eu não tenho nada contra a Academia. De fato não há contradição minha em lamentar que não tenha sido eleito porque eu tensionava fazer tudo pela academia, se fosse eleito. Acho que, antes de tudo, ela deveria ter muita gente jovem. Eu acho que já seria uma renovação e acabava com aquela coisa. Na academia, já não gostaram muito de mim porque doisa naos antes da minha candidatura eu tinha dito que a Academia era uma espécie de sociedade recreativa e funerária (risos).
P - Como é o dia-a-dia de Mário Quintana?
R - Bem, eu acordo de manhã, vivo de dia e durmo de noite. Não tem nada de especial. Eu escrevo, ando, visito amigos...
P - Mário, cita dois ou três poetas brasileiros que você considera bons.
R - Olha, eu não gosto de citar. Eu só citarei um para evitar, depois, emissões inadvertidas ou divertidas. Eu citarei o Carlos Drummond de Andrade que é um dos poetas mais complexos do nosso País.
P - Mário, você fala muito do amor nos seus poemas. Mas, você não se casou, não teve filhos. Como explica isso?
R - Talvez porque não tenha tido tempo. Eu andei muito. Antes eu trabalhava em Alegrete, cidade onde nasci. Ali fui prático de farmácia. Mas quando estava esquentando uma coisa eu mudava para outra. No quarto ano do colégio eu fui reprovado porque só estudava Português, Francês e História. O resto eu nem abria e um dia meu pai disse: "Olha, você não quer estudar. É uma pena, mas, vagabundo não te quero. Vais trabalhar na minha farmácia. " E eu fui prático de farmácia por cinco anos. Depois quando ele faleceu, eu fui fazer a única coisa que eu gostava: fui trabalhar de jornalista no Estado do Rio Grande. Quando as coisas estavam esquentando de novo o Governador mandou fechar o Estado do Rio Grande. Era o Flores da Cunha. Ele era um velho caudilho risos). Aí fui trabalhar na Gazeta de Notícias, no Rio. Isso em 1936. Estive lá dois anos e aí fui trabalhar na Livraria do Globo. E sempre andando de um lado para o outro. E aí não tive tempo. Como é que vou saber porque é que não casei. Deve ter sido por causa dos astros, né? Vamos culpar os astros (risos).
P - (Joana) - Casou com a poesia?
P - (Lau) - Não, a poesia não é um casamento. É um caso, não é?
R - Ah... a poesia é um caso mesmo!
P - Quantos livros você traduziu?
R - Eu traduzi para a Livraria do Globo, cento e trinta e oito livros. No tempo em que eu era criança, o francês era moda e a minha mãe era professora de francês. Então, quando a gente, por exemplo, não queria que os empregados soubessem o que a gente estava dizendo, aí se falava em francês. Grande parte da revolução de 23, por exemplo, foi preparada em francês, porque se reuniam as senhoras dos oficiais para tomarem chá e comunicavam as coisas todas em francês. Imagine que na minha terra, em Alegrete, se fez revolução em francês. Que barbaridade! Naquele tempo as comunicações com a Europa eram bem mais fáceis que hoje. A França era a capital literária do mundo. Eu, quando estava na farmácia do velho, tinha conta numa livraria francesa. Eles mandavam os boletins e eu encomendava. Tudo vinha direto de Paris para Alegrete.
P - Que recado você vai mandar para os paraibanos?
Mario Quintana - DO AMOROSO ESQUECIMENTO
DO AMOROSO ESQUECIMENTO
Eu agora - que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?
Mario Quintana - Espelho Mágico
Mario Quintana - DA DISCRIÇÃO
DA DISCRIÇÃO
Não te abras com teu amigo
Que ele um outro amigo tem.
E o amigo do teu amigo
Possui amigos também...
Mario Quintana - Espelho Mágico
Mario Quintana - DOS MUNDOS
DOS MUNDOS
Deus criou este mundo. O homem, todavia,
Entrou a desconfiar, cogitabundo...
Decerto não gostou lá muito do que via...
E foi logo inventando o outro mundo.
Mario Quintana - Espelho Mágico
Mario Quintana - DA OBSERVAÇÃO
DA OBSERVAÇÃO
Não te irrites, por mais que te fizerem...
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio...
Mario Quintana - Espelho Mágico
Mario Quintana - DAS UTOPIAS
DAS UTOPIAS
Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos se não fora
A mágica presença das estrelas!
Mario Quintana - Espelho Mágico
Mario Quintana - AH! OS RELOGIOS
AH! OS RELÓGIOS
Amigos, não consultem os relógios
quando um dia eu me for de vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas
que até parecem mais uns necrológios...
Porque o tempo é uma invenção da morte:
não o conhece a vida - a verdadeira -
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.
Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.
E os Anjos entreolham-se espantados
quando alguém - ao voltar a si da vida -
acaso lhes indaga que horas são...
Mario Quintana - A Cor do Invisível
Mario Quintana - PROJETO DE PREFÁCIO
PROJETO DE PREFÁCIO
Sábias agudezas... refinamentos...
- não!
Nada disso encontrarás aqui.
Um poema não é para te distraíres
como com essas imagens mutantes de caleidoscópios.
Um poema não é quando te deténs para apreciar um detalhe
Um poema não é também quando paras no fim,
porque um verdadeiro poema continua sempre...
Um poema que não te ajude a viver e não saiba preparar-te para a morte
não tem sentido: é um pobre chocalho de palavras.
Mario Quintana
MARIO QUINTANA POR MARIO QUINTANA
MARIO QUINTANA POR MARIO QUINTANA
( texto escrito pelo poeta para a revista Isto É de 14/11/1984 )
Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Há ! mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas... Aí vai ! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas : ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a eternidade.
Nasci do rigor do inverno, temperatura : 1 grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não estava pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro – o mesmo tendo acontecido a Sir Isaac Newton ! Excusez du peu.
Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que nunca acho que escrevi algo à minha altura. Porque poesia é insatisfação, um anseio de auto-superação. Um poeta satisfeito não satisfaz. Dizem que sou tímido. Nada disso ! sou é caladão, instrospectivo. Não sei por que sujeitam os introvertidos a tratamentos. Só por não poderem ser chatos como os outros ?
Exatamente por execrar a chatice, a longuidão, é que eu adoro a síntese. Outro elemento da poesia é a busca da forma (não da fôrma), a dosagem das palavras. Talvez concorra para esse meu cuidado o fato de ter sido prático de fármacia durante 5 anos. Note-se que é o mesmo caso de Carlos Drummond de Andrade, de Alberto de Oliveira, de Erico Veríssimo – que bem sabem ( ou souberam) , o que é a luta amorosa com as palavras.
Mario Quintana - A CANÇÃO DA VIDA
A CANÇÃO DA VIDA
A vida é louca
a vida é uma sarabanda
é um corrupio...
A vida múltipla dá-se as mãos como um bando
de raparigas em flor
e está cantando
em torno a ti:
Como eu sou bela
amor!
Entra em mim, como em uma tela
de Renoir
enquanto é primavera,
enquanto o mundo
não poluir
o azul do ar!
Não vás ficar
não vás ficar
aí...
como um salso chorando
na beira do rio...
(Como a vida é bela! como a vida é louca!)
Mario Quintana (Esconderijos do Tempo)
Mario Quintana - POEMINHA SENTIMENTAL
POEMINHA SENTIMENTAL
O meu amor, o meu amor, Maria
É como um fio telegráfico da estrada
Aonde vêm pousar as andorinhas...
De vez em quando chega uma
E canta
(Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!)
Canta e vai-se embora
Outra, nem isso,
Mal chega, vai-se embora.
A última que passou
Limitou-se a fazer cocô
No meu pobre fio de vida!
No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo:
As andorinhas é que mudam.
Mario Quintana - Preparativos de Viagem
Mario Quintana - OBSESSAO DO MAR OCEANO
OBSESSÃO DO MAR OCEANO
Vou andando feliz pelas ruas sem nome...
Que vento bom sopra do Mar Oceano!
Meu amor eu nem sei como se chama,
Nem sei se é muito longe o Mar Oceano...
Mas há vasos cobertos de conchinhas
Sobre as mesas... e moças na janelas
Com brincos e pulseiras de coral...
Búzios calçando portas... caravelas
Sonhando imóveis sobre velhos pianos...
Nisto,
Na vitrina do bric o teu sorriso, Antínous,
E eu me lembrei do pobre imperador Adriano,
De su'alma perdida e vaga na neblina...
Mas como sopra o vento sobre o Mar Oceano!
Se eu morresse amanhã, só deixaria, só,
Uma caixa de música
Uma bússola
Um mapa figurado
Uns poemas cheios de beleza única
De estarem inconclusos...
Mas como sopra o vento nestas ruas de outono!
E eu nem sei, eu nem sei como te chamas...
Mas nos encontramos sobre o Mar Oceano,
Quando eu também já não tiver mais nome.
Mario Quintana - O Aprendiz de Feiticeiro
Mario Quintana - AMOR
O amor é quando a gente mora um no outro.
Mario Quintana
Mario Quintana - A FRASE
Convém que se repita...
Só em linguagem amorosa agrada
A mesma coisa cem mil vezes dita.
Mario Quintana
Mario Quintana - A VOZ
A VOZ
Ser poeta não é dizer grandes coisas, mas ter uma voz reconhecível dentre todas as outras.
Mario Quintana (Caderno H)
Mario Quintana - AS INDAGAÇÕES
AS INDAGAÇÕES
A resposta certa, não importa nada: o essencial é que as perguntas estejam certas.
Mario Quintana (Caderno H)
Mario Quintana - A COISA
A COISA
A gente pensa uma coisa, acaba escrevendo outra e o leitor entende uma terceira coisa... e, enquanto se passa tudo isso, a coisa propriamente dita começa a desconfiar que não foi propriamente dita.
Mario Quintana (Caderno H)
Mario Quintana - A CARTA
A CARTA
Quando completei quinze anos, meu compenetrado padrinho me escreveu uma carta muito, muito séria: tinha até ponto-e-vírgula! Nunca fiquei tão impressionado na minha vida.
Mario Quintana (Caderno H)
Mario Quintana - A ARTE DE LER
A ARTE DE LER
O leitor que mais admiro é aquele que não chegou até a presente linha. Neste momento já interrompeu a leitura e está continuando a viagem por conta própria.
Mario Quintana (Caderno H)
Mario Quintana - ARTE POETICA
ARTE POÉTICA
Esquece todos os poemas que fizeste. Que cada poema seja o número um.
Mario Quintana (Caderno H)
Mario Quintana - BIOGRAFIA
BIOGRAFIA
Era um grande nome — ora que dúvida! Uma verdadeira glória. Um dia adoeceu, morreu, virou rua... E continuaram a pisar em cima dele.
Mario Quintana (Caderno H)
Mario Quintana - ANALFABETO
CARTAZ PARA UMA FEIRA DO LIVRO
Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não lêem.
Mario Quintana (Caderno H)
Mario Quintana - CUIDADO
CUIDADO
A poesia não se entrega a quem a define.
Mario Quintana (Caderno H)
Mario Quintana - DAS ESCOLAS
DAS ESCOLAS
Pertencer a uma escola poética é o mesmo que ser condenado à prisão perpétua.
Mario Quintana (Caderno H)
Mario Quintana - DESTINO ATROZ
DESTINO ATROZ
Um poeta sofre três vezes: primeiro quando ele os sente, depois quando ele os escreve e, por último, quando declamam os seus versos.
Mario Quintana (Caderno H)
Mario Quintana - TRAGICO DILEMA
O TRÁGICO DILEMA
Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um dos dois é burro.
Mario Quintana (Caderno H)
Mario Quintana - POEMA
POEMA
Mas por que datar um poema? Os poetas que põem datas nos seus poemas me lembram essas galinhas que carimbam os ovos...
Mario Quintana (Caderno H)
Mario Quintana - SINONIMOS
SINÔNIMOS
Esses que pensam que existem sinônimos, desconfio que não sabem distinguir as diferentes nuanças de uma cor.
Mario Quintana (Caderno H)
Mario Quintana - PEQUENO ESCLARECIMENTO
PEQUENO ESCLARECIMENTO
Os poetas não são azuis nem nada, como pensam alguns supersticiosos, nem sujeitos a ataques súbitos de levitação. O de que eles mais gostam é estar em silêncio - um silêncio que subjaz a quaisquer escapes motorísticos e declamatórios. Um silêncio... Este impoluível silêncio em que escrevo e em que tu me lês.
Mario Quintana - A vaca e o hipogrifo
Mario Quintana - UM BOM POEMA
Um bom poema é aquele que nos dá a impressão
de que está lendo a gente ... e não a gente a ele!
Mario Quintana - A vaca e o hipogrifo
Mario Quintana - SIMULTANEIDADE
SIMULTANEIDADE
- Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo! Eu creio em Deus! Deus é um absurdo! Eu vou me matar! Eu quero viver!
- Você é louco?
- Não, sou poeta.
Mario Quintana - A vaca e o hipogrifo
Mario Quintana - O SILENCIO
O SILÊNCIO
Convivência entre o poeta e o leitor, só no silêncio da leitura a sós. A sós, os dois. Isto é, livro e leitor. Este não quer saber de terceiros, n ão quer que interpretem, que cantem, que dancem um poema. O verdadeiro amador de poemas ama em silêncio...
Mario Quintana - A vaca e o hipogrifo
Mario Quintana - CLAREIRAS
CLAREIRAS
Se um autor faz você voltar atrás na leitura, seja de um período ou de uma simples frase, não o julgue profundo demais, não fique complexado: o inferior é ele.
A atual crise de expressão, que tanto vem alarmando a velha-guarda que morre mas não se entrega, não deve ser propriamente de expressão, mas de pensamento. Como é que pode escrever certo quem não sabe ao certo o que procura dizer?
Em meio à intrincada selva selvaggia de nossa literatura encontram-se às vezes, no entanto, repousantes clareiras. E clareira pertence à mesma família etimológica de clareza... Que o leitor me desculpe umas considerações tão óbvias. É que eu desejava agradecer, o quanto antes, o alerta repouso que me proporcionaram três livros que li na última semana: Rio 1900 de Brito Broca, Fronteira, de Moysés Vellinho e Alguns Estudos, de Carlos Dante de Moraes.
Porque, ao ler alguém que consegue expressar-se com toda a limpidez, nem sentimos que estamos lendo um livro: é como se o estivéssemos pensando.
E, como também estive a folhear o velho Pascall, na edição Globo, encontrei providencialmente em meu apoio estas palavras, à pág. 23 dos Pensamentos:
"Quando deparamos com o estilo natural, ficamos pasmados e encantados, como se esperássemos ver um autor e encontrássemos um homem".
Mario Quintana - A vaca e o hipogrifo
Mario Quintana
Aquele homem ali no balcão, caninha após caninha,
nem desconfia que se acha conosco desde o início
das eras. Pensa que está somente afogando problemas
dele, João Silva... Ele está é bebendo a milenar
inquietação do mundo!"